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quarta-feira, 23 de março de 2011

A MÚSICA NA LITURGIA


Eu exerço função ministerial do canto litúrgico e formação musical na Diocese de São Miguel Paulista e quero partilhar um texto da Irmã Miria Kolling que traz uma reflexão profunda sobre a importância da música e participação da assembléia nas celebrações, esclarecendo especificamente o ofício da música na liturgia.No segundo texto, Irmã Míria faz citação de autores, principalmente Santo Agostinho, em que revelam o valor do canto e destaca trechos de diversos documentos da Igreja a respeito da expressão musical nas celebrações. Confira:


Lugar do coral ou grupo de canto Ir. Míria T. Kolling

Muitos me perguntam sobre o local mais adequado para o coral ou grupo de cantores, no espaço celebrativo. Primeiro, é bom lembrar que o grupo coral não foi abolido pelo Concílio Vaticano II, mas ele tem uma função ministerial muito importante: sustentar, animar e apoiar o canto da assembléia,
enriquecer o canto do povo, favorecendo a participação ativa dos fiéis. A este respeito nos diz o Estudo da CNBB nº 79 “A música litúrgica no Brasil”, em seu nº 258: “Para poder exercer sua função ministerial junto à assembléia, o coral se poste de tal forma, que fique próximo aos fiéis na nave, à frente, entre o presbitério e a assembléia (à direita ou à esquerda), sem impedir a visão do povo, e não longe do(s) instrumento(s) de acompanhamento.” Portanto, o lugar mais adequado não é no fundo da igreja, acima e atrás da assembléia, no ch
amado “coro”, como acontecia antes do Concílio, mas entre o povo e o altar, sem nunca dar as costas para o mesmo. Isto, porque o grupo dos cantores e instrumentistas, antes de serem ministros, são parte da assembléia, formam o povo de Deus, e devem estar localizados de tal forma que lhes facilite a participação plena, sacramental, ficando claramente visível que constituem a comunidade dos fiéis, mas com uma função particular. Sobre o assunto fala com muita propriedade Mauro Serrano Díaz, no livro “Manual de Liturgia II” (CELAM – Paulus, 2005), à pág. 292 e seguintes: “Para a assembléia, não é edificante um coro que não escute a Palavra, não se una a ela na oração e no sacramento, dedicando-se apenas à sua arte.” E ainda: “O coral nunca deve suplantar a assembléia: as respostas ao salmo, a aclamação-hino do “Santo”, as diversas aclamações da Liturgia da Palavra e da Liturgia Eucarística são patrimônio da assembléia.... O coral não é um grupo “vedete”: sua grandeza está no trabalho paciente da formação musical e litúrgica do grupo, assim como na participação assídua na celebração da comunidade.” Vale a pena citar ainda Julián López Martín, que completa em seu livro “A Liturgia da Igreja” (Edições Paulinas, 2006): “A participação da assembléia no canto é um direito e um dever que não pode ser suplantado por um coral, uma vez que este tem também sua própria função na celebração, a serviço de toda a assembléia.” Nem o grupo deve abafar a voz do povo, nem os instrumentos suplantar a voz do grupo e da assembléia! “Confundindo ministério com palco” é um interessante artigo de Carlos Sider que guardo e agora me vem à lembrança. Confirma ele o que outros autores e documentos da Igreja falam sobre o assunto. O desafio é não se tornar igreja da moda, grupo musical, cantor ou banda da moda, que toca e canta para atrair multidões, muitas vezes mesmo sem a vivência da fé. O cuidado é não chamar a atenção sobre si, tornar-se o centro, sob holofotes e luzes, dando espetáculo ou show, disputando o espaço com o altar, pois não é aos ministérios em si que Deus dá importância, mas ao coração humilde do ministro, que aprende a servir os irmãos aos pés da cruz. “Os frutos do palco são passageiros. Os frutos do verdadeiro ministério são eternos”, conclui o autor. Portanto, o grupo dos cantores ou coral faz parte da assembléia dos fiéis, desempenhando porém um ministério litúrgico particular, um serviço especial, o que deve ficar claro, pela sua disposição na igreja e pela atitude e postura dos cantores, formando unidade com o povo e favorecendo a participação e comunhão de todos. Também os instrumentos sejam colocados de tal forma que possam sustentar o canto da comunidade, sendo facilmente vistos e ouvidos. Feliz o grupo de canto que ajuda a comunidade a rezar quando canta!
(Ir. Míria T. Kolling)


Por que celebrar cantando? Ir. Míria T. Kolling

Santo Agostinho afirmou, certa vez: "Se queres saber o que cremos, vem ouvir o que cantamos.
O mesmo santo nos diz que "Cantar é próprio de quem ama". E ainda: "Cantar é rezar duas vezes/"
Estas três afirmações bastariam para fundamentar o porquê do nosso canto na liturgia. Cantamos porque amamos. Cantamos porque cremos. Cantamos porque o Senhor é a nossa Festa. A Liturgia é uma festa. E não há festa sem música. . Daí a importância do canto nas nossas celebrações. Não um canto qualquer, apenas como enfeite ou algo secundário, mas como parte integrante da celebração, por isso é um canto chamado litúrgico, ministerial, que está em função da Palavra e do Mistério celebrado, cujo centro é sempre Jesus Cristo, nossa Páscoa, isto é, sua vida, paixão, morte e ressurreição, à luz do qual vivemos também nossas mortes e ressurreições.
Destacamos, a seguir, algumas razões fortes, fundamentais, citadas em documentos da Igreja, sobre o motivo do nosso cantar, na comunidade celebrante, com a participação de toda a assembléia:
1. O canto é um dos meios mais eficazes e pedagógicos para a formação cristã e litúrgica, pessoal e da assembléia.
2. O canto é caminho para o encontro entre o homem e Deus. Tem força de transformação, porque toca as profundezas da alma, as fibras mais íntimas do nosso ser.
3. Cantar em comum produz união, cria sintonia , solidariedade e comunhão entre os participantes. Enquanto cantam as vozes, unem-se os corações, expressando a mesma fé, solidificando a fraternidade, aprofundando e celebrando o amor.
4. O canto nos ajuda a sair de nós mesmos, para irmos ao encontro do outro, fazendo-nos menos individualistas e mais comunitários. Deixamos o eu, para assumir o nós.
5. O canto é sinal e símbolo da polifonia da vida, onde somos tão diferentes, cada qual com seus dons, sua vocação e missão, mas todos unidos no mesmo coro, numa só voz, onde Deus é o nosso "Canto Firme", que nos sustenta e faz cantar.
6. Por isso é tão importante que toda a comunidade participe do canto e não apenas um pequeno grupo. Diz o documento da Igreja sobre a Música Sacra, que " Nada há de mais festivo e mais grato nas celebrações do que uma assembléia que, por inteiro, expresse sua fé e sua piedade através do canto."
7. A Liturgia sempre foi marcada pelo canto. Basta lembrar os Salmos, no Antigo Testamento. Jesus Cristo cantou os salmos, entoou hinos e aleluias com os apóstolos, sendo Ele mesmo o Cantor do Pai e nossa Música da vida. Também os primeiros cristãos sempre deram razão de sua esperança, através do canto que brota da vida, ora como grito e súplica, ora como louvor e ação de graças, ora como aclamação e aleluia. Deus é a fonte e a razão do nosso canto e do nosso louvor.
8. A música, pela suavidade da melodia, pela harmonia das vozes, pela força do ritmo e dos sons, expressa melhor o Mistério de Deus e as verdades da nossa fé. Uma coisa é falarmos, por exemplo, "Senhor, tende piedade de nós", mas bem outra é cantar uma melodia suplicante, expressando o pedido de perdão, pois no dizer do poeta, enquanto cantamos, pronunciando as palavras, o Espírito Santo semeia luz e graça nos corações.
9. "Poucas coisas são tão próprias para excitar a piedade nas almas e inflamá-las com o fogo do amor divino como o canto" (Santo Agostinho). E Santo Ambrósio, outro cantor e compositor de hinos religiosos, completa bem: "Na verdade, não vejo o que os fiéis podiam fazer de melhor, de mais útil, de mais santo, do que cantar", quando reunidos na igreja para celebrar o Senhor.
10. O importante Estudo da CNBB n.º 79 dá 4 razões fundamentais do nosso cantar na Celebração:
a) Razão teológica - celebrar a ação de Deus em nossa vida, como resposta generosa e confiante ao seu amor por nós.
b) Razão cristológica - celebrar o Mistério Pascal do Senhor Ressuscitado entre nós.
c) Razão pneumatológica - cantar no Espírito, pois não só cantamos para Deus, mas em Deus, no seu Espírito.
d) Razão eclesuiológica - cantar e celebrar em comunidade. A comunidade faz o cantar, e o cantar faz a comunidade.
Cantemos, pois, a vida, a fé, o amor! Deus é a razão do nosso cantar, e é Ele mesmo o nosso CANTO!
(Ir. Míria T. Kolling)

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