12 de junho, Dia dos Namorados. Esse texto que trago abaixo relata uma situação muito séria e delicada. É uma carta escrita para o abusador, o qual tive uma relação por seis anos. Agora, essa minha experiência está materializada como fruto de coragem, obtida com a ajuda de uma rede de apoio fundamental, formada pela família, amigos e assistência profissional da área da psicologia. Aqui eu descrevo eventos extremamente perturbadores e perigosos de um relacionamento com uma pessoa de comportamento alcoolizado e agressivo, o que é preocupante. São fatos reais e só estão aqui porque tive incentivo terapêutico para lidar com essas questões. Leia.
"Fulano, vou te dizer que a terapia me salvou. Vivi momentos bons, mas foram maiores os episódios traumatizantes que vivi nesses quase seis anos de relacionamento:
AGRESSIVIDADE EXPLÍCITA
Logo no começo do relacionamento, já houve sinais de alerta com comportamentos de agressividade excessiva. Quando estávamos na casa de um dos amigos, por conta de ciúme, você tentou atirar uma garrafa de vidro em mim, mas a amiga X e o amigo Y te seguraram, graças a Deus, nada aconteceu. Foi um momento assustador e você lembra muito bem.
COMPLICAÇÕES NO TRABALHO
Outra vez, numa manhã, você tentou me segurar, me prender em casa para que eu não saísse para o trabalho. Nesse dia era a inauguração de um CAPS, com a presença do então prefeito Bruno Covas. Depois de muita luta, eu consegui me desvencilhar e, por insegurança, você foi junto. Quando cheguei de carro no local, o evento já tinha acabado e o subprefeito estava na entrada com a equipe de gabinete olhando para mim furioso, e você do meu lado vendo tudo o que havia provocado. Quase perdi meu emprego. Vergonhoso.
ACIDENTE NA AVENIDA PAULISTA
O ápice foi o fatídico show de sua baixaria. Estávamos com o J.V. e o Ch. na Rua Peixoto Gomide com a Avenida Paulista. Você totalmente bêbado, não aceitou um NÃO como um basta pra parar de beber, além do que já havia bebido anteriormente em uma festa de casamento open bar, e voltamos para o carro. Durante o trajeto, você começou a gritar pra fora da janela e a me xingar. Com a série de ofensas, parei o carro e pedi para você se retirar e você saiu gritando pela rua. Daí a coisa piorou. O pessoal tentou te trazer de volta para veículo, mas sem sucesso.
Você começou a fazer birra, entrou no hospital Nove de Julho no intuito de usar o sanitário pra urinar, mas ficou lá por um vasto tempo sem arredar o pé, até todos insistirem e convencê-lo a sair de lá. Não bastasse, com muita luta, saiu e entrou no banco de trás do carro. Retomando a direção, na subida da ladeira da Rua Peixoto Gomide, surtou, abriu a porta e se atirou com o carro em movimento. Imediatamente parei o carro, e saímos todos desesperados pra te socorrer. Por sorte, nada aconteceu e tentamos colocá-lo de volta no banco de trás, supostamente desmaiado.
Só que o pior estava por chegar: antes de entrar, subitamente você endemoniado me pegou pelo colarinho e me arrastou pelo asfalto para brigar. Fomos apartados. Voltei assustado até o carro e travei as portas. Ameaçou quebrar a porta, porque eu não queria deixá-lo entrar pra "conversar" (sem condições). Com todos (J.V. e Ch.) lá fora, eu meti o pé no acelerador, a fim de escapar da ameaça de você tentar quebrar a porta do carro, e assim fiquei no outro quarteirão de onde estávamos. Mais precisamente na Rua Frei Caneca. Respirei e voltei para a Rua Peixoto Gomide, mas vocês não estavam mais no local. Após o sinal verde do semáforo, segui caminho e entrei na Avenida Paulista. Foi aí que, de repente, você saiu da calçada e apareceu na frente do carro. Desviei para outra faixa esquerda da pista para não atropelá-lo. Você pegou na maçaneta da porta do carro pra tentar abrir, pediu pra entrar, mas eu, assustado com a agressividade, não abri e vc continuou tentando entrar no carro.
Enquanto eu dirigia, e você lá fora ainda insistindo em entrar, acelerei o carro, mas não largava e puxava mais e mais a maçaneta. De repente, com o carro em movimento e te vendo a surfar de tênis na pista, a maçaneta quebrou, se desprendeu e eu só vi, pelo retrovisor, você a rolar-se todo e com o corpo estendido em plena Avenida Paulista. Um terror. Como os amigos estavam lá fora, eu continuei dirigindo e chorando sem acreditar naquilo tudo que estava acontecendo.
Entrei novamente na Rua Frei Caneca, parei, saí do carro pra entrar em uma academia 24 horas. Sentei, pedi um copo d'água para um funcionário e logo ouvi o som de sirene. Logo pensei na ambulância a fazer o resgate. Respirei fundo e voltei ao local. Na calçada da Avenida Paulista, vi um caminhão do Corpo de Bombeiros e uma ambulância. Sabendo que eu voltaria, o Ch. me viu, entrou no carro me dizendo para seguir até o hospital da Vila Alpina, onde ficou internado no setor de traumatologia. Chegando lá, o J. V. que te acompanhou na ambulância, estava lá de pé e nos contou que você estava em observação. Como já estava prestes a amanhecer e sem previsão de saída, deixei meu telefone de contato para o hospital me retornar assim que recebesse alta. Saí para levar o Ch de volta para a casa dele, a fim da gente descansar daquela madrugada infernal. Não vi o telefone tocar, de tanto cansaço. Só te vi entrando no quarto com o corpo ralado e enfaixado. Milagrosamente sem fraturas.
TRANSTORNOS COM AMIGOS DE INFÂNCIA
Outra situação traumática foi aceitar seus dois amigos de infância morarem no apartamento por 3 meses. Foi um inferno. Descobri uso de drogas pesadas. E o ápice do absurdo foi esse casal de amigos, durante a madrugada, chegarem do trabalho. Chegaram gritando no condomínio, fazendo escândalo. A audácia foi tanta que, sem nos comunicar, vieram com mais dois colegas do trabalho deles. E, pra variar, esse casal de seus amigos de infância estavam drogados. Queriam me agredir por eu reprovar a situação de desrespeito. Vergonhoso. No dia seguinte foram expulsos.
CHANTAGENS EMOCIONAIS
Foram incontáveis as situações de chantagem emocional: ameaça com faca, prejuízo material com arremesso do meu celular no chão, mentiras, dissimulações, brigas em ambientes públicos e busca de aventuras com aplicativos de relacionamento, capaz de sair pela madrugada, sem avisar, e ir para a rua a fim de encontrar uma pessoa, achando que eu poderia ser conivente em ter relação sexual a três.
APOIO FINANCEIRO
Por duas vezes, você ficou desempregado por mais de um ano. Nesses dois períodos, segurei praticamente sozinho as finanças, assumindo despesas de aluguel, alimentação, contas da casa, como energia elétrica e internet, plano dentário, plano de saúde, além de despesas relacionadas à vida social, como viagens.
ACUSAÇÃO POR "ESTRUPRO"
A gota d'água foi tentar me acusar de estupro. Após uma situação de eu expor que me sentia desrespeitado e que eu era capaz de terminar a relação, você fez ameaça alegando estupro, sendo que todo casal tem suas necessidades de sedução. Resumo: foi parar em um batalhão policial para me denunciar. Ou seja, mais uma situação de ameaça à minha integridade moral. Depois se arrependeu, mas já era tarde. Descobri mentiras, traições, e bota traições nisso. A máscara de ciumento, de puritano caiu. E foi aí que que criei forças, dei um basta. Hoje é esse texto terapêutico, como fruto de libertação.
E essa foi a carta para o fulano e confesso que é duro contar tudo isso. Porém, o drama não parou por aí. Sabe aquela frase "a gente só conhece a pessoa quando termina o relacionamento com ela"? É a pura verdade.
O desfecho não parou somente nisso, porque houve mais um episódio a contar aqui:
CORTE DE ENERGIA ELÉTRICA
Mesmo completado dois meses do término da relação, do fulano ter buscado todos os pertences no apartamento e, inclusive, eu ficar sabendo que rapidamente ele já havia engatado um novo namoro com outra pessoa, o sofrimento ainda não havia acabado.
Acredita que tive a energia elétrica do apartamento cortada a pedido do fulano? Sim, a conta de energia elétrica estava no nome dele. Numa quarta-feira (15/05), no horário de almoço, surpreendentemente ele me ligou dizendo que a distribuidora de energia elétrica Enel havia cobrado algumas pendências. No mesmo dia paguei as contas que estavam no nome dele e enviei o comprovante. No dia seguinte, quando soube da quitação, o fulano entrou em contato com a Enel para cancelar o contrato. Eu só soube disso porque, na sexta-feira (17/05), fui surpreendido com o telefonema da administração do condomínio informando que os agentes da distribuidora energética estavam lá para desligar, sem possibilidade de reversão. Ou seja, o combinado não aconteceu.
Não tive a chance de fazer a transferência de titularidade para o meu nome. Fui às pressas para o apartamento e, quando vi tudo desligado, caí em prantos. Dobrei meu joelho no chão e me prostrei a chorar diante da cama. Foi um choro de soluçar como de uma criança, coisa que eu nunca havia vivido antes. Extrema decepção.
Somente na terça-feira da semana seguinte é que consegui efetivar uma nova titularidade. Tive que me deslocar até uma agência da Enel, porque a central telefônica estava com sistema inoperante. Vale lembrar que eu fiz o pagamento de toda a dívida no fatídico dia do corte, sexta-feira (17/05), mas a baixa de quitação dos valores pendentes ocorreu somente na terça-feira (21/05). Ou seja 5 dias depois. Com todo o procedimento seguido, foram 11 dias para restabelecer a energia elétrica. Os próprios funcionários da agência disseram que bastasse apenas o antigo titular solicitar a transferência, ao invés do cancelamento do contrato e nada de transtorno teria acontecido.
FORAM 11 DIAS dormindo no escuro, tomando banho no apartamento da minha vizinha. Tudo por conta da imaturidade e covardia de alguém que tentou se "vingar", mas só aumentou a resiliência, minha fé em Deus, e me fez certificar, ainda mais, o caráter maldoso dele.
Eu poderia ir até a porta do trabalho do fulano e fazer escândalo? Poderia. A minha vontade realmente era de ir até o trabalho dele e olhar cara a cara e questionar a falta de compaixão? Era. Entretanto, logo foi um pensamento súbito, seria muita humilhação. Fiz? Não, não me igualei.
Estou convicto de que terminar o relacionamento de seis anos, com vastos episódios de riscos, foi livramento. Terminar foi a melhor e mais desafiadora decisão da minha vida. O tempo é o melhor remédio para curar.
Bendito seja Deus! Bendita seja a terapia!
Um comentário:
Amigo, meu amado, se bem o conheço, sei que não se igualaria a essas atrocidades, desrespeito e criancice como ocorrido... Graças a Deus essa libertação... Quem como Deus? Ninguém!!!
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