Caçada de Pedrinho, obra literária do escritor Monteiro Lobato, está dando o que falar. A discussão é por causa da tentativa de veto na distribuição do livro às escolas públicas, depois da denúncia formalizada pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE) e o Ministério da Educação (MEC). O instituto considera racista o termo usado pelo escritor quando diz que "Tia Anastácia subiu na árvore como uma 'macaca de carvão'." A censura tem dividido opiniões, como a de professores que não concordam e alegam que esses tipos de assuntos podem ser abordados em sala de aula. Entretanto, Humberto Adami, advogado e diretor do Iara, declarou à revista Veja que está disposto a buscar outros recursos na Corte Interamericana, caso a proibição do livro não seja atendida.
Em nota oficial divulgada no mês passado, o MEC ressalta que "defende a plena liberdade de ideias e o acesso a produções culturais e científicas com a mediação de um professor."
Ao ser entrevistada pela revista, a socióloga Marcilene Gardia de Souza rebate: "assuntos como esse só gera mais preconceito, pois os professores não sabem abordar o conteúdo com olhar crítico... há décadas, o movimento social negro tem reivindicado isso. Justamente porque muitos livros ainda reforçam estereótipos sobre as populações negras e negam a importância de processos históricos de resistência na formação do Brasil", conclui.
Estereótipos existem nas relações humanas. Mas, nesse caso, o termo usado por Monteiro Lobato pode ser considerado como uma força de expressão sem cunho racista. A palavra escrita, muitas vezes, pode ser mal interpretada, ter vários sentidos. Diferente da oralidade, que revela as intenções com variadas inflexões da voz. "Negrinha", "preta", "marrom bombom" são expressões que dependem da forma como são ditas. FORMA: essa é a palavra a ser compreendida dentro de um contexto num texto. É uma linha tênue e depende de circunstâncias. Forma ofensiva, pejorativa, carinhosa, etc. Tudo depende da interpretação, da leitura que se faz do autor. Subestimar o leitor de senso crítico é um erro ao achar que levará ao pé da letra.
Debater é saudável. Contudo, proibir obras literárias que nos traz elementos históricos, como as de Monteiro Lobato, é tolice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário